Por muito tempo esse foi meu lugar de me expressar, extrair o que sentia. Juntamente com músicas, as palavras, as frases e as histórias se construíam de forma coerente aos meus sentimentos. Confesso que nem sempre saíam boas obras, muitas vezes caiam no clichê, outras simplesmente não tinham o fim que eu desejava. Mas mesmo assim foi uma época bem produtiva da minha vida criativa.
Nessa época eu experimentei a tristeza e a solidão, juntamente com o dever de manter a cabeça erguida pelo simples fato de que o mundo não pára. Conviver com os problemas sem conseguir resolvê-los e continuar lutando não foi a tarefa das mais fáceis. Carregar esse peso a cada passo em uma longa caminhada sem fim em uma estrada deserta, escura e fria com monstros me aguardando a cada quilômetro fez, por incrível que pareça, minha criatividade ativar de uma maneira ímpar. Consegui retratar através de meus textos assuntos infelizes que me atormentavam e acredito que, além de conseguir me expressar, ainda ganhei um público.
Mas agora parte desses pesos foi embora. Minha infelicidade já não é mais a mesma, e minha criatividade resolveu cessar. Talvez tenha servido apenas como uma ferramenta para me ajudar a enfrentar tudo. Aliás, desde pequeno fui treinado para enfrentar situações hostis, para lutar sempre, determinado de que tudo um dia irá melhorar. Bem, agora estou encontrando momentos felizes, momentos que não tive no passado e que admito não conseguir encarar. Me sinto como a pessoa daquela piada do funcionário de vendas, que pede ao cliente para fazer o cartão mas não foi treinado em caso de resposta afirmativa. É, eu realmente não fui treinado para isso. E minha criatividade me abandonou, talvez na hora que eu mais precise dela. Meus textos hoje são raros.
Uma gama de sentimentos me atinge agora, deixando-me confuso. Tento reagir, procurar hostilidade em cada pedaço de emoção para poder me preparar, mas essa não existe. Estou enlouquecendo sem saber o que fazer, como reagir. Não consigo me despir de minha armadura, não consigo largar minha espada. Mesmo que não a tenha na mão, sempre a carrego na cintura. Não estou nu para que as coisas boas me atinjam.
E cada emoção que chega é como se viesse uma caixa de pandora pedindo para ser aberta para liberar todo o mal do mundo. E o que me resta? A esperança. O último sentimento bom guardado nesse turbilhão do mal. A esperança de entender, de assimilar e de, principalmente, me deixar ser atingido pela felicidade.
"A luta eterna nos cega e passamos a enxergar
apenas monstros até onde há luz"
Douglas Mateus